Não escrevia aqui desde janeiro

Sei-me, na falta de melhor atributo, existencialista. Tenho recebido tanto, mas ainda procuro o caminho que me rejeita. Ou talvez não. Porque também gosto deste balanço. Gosto de poder ser Homem antes de profissão. E sinto-me acompanhado, ainda, mas conversamos menos. Já não registo o diário da minha vida em páginas matinais e talvez sinta esse vácuo. Isto porque experiencio 7 dias num só e não o quero fazer sem propósito. Nesta dicotomia coloco tudo em questão. Desconfio dos edifícios à minha volta e das paisagens em que à boleia me colocam. Por vezes estranho esta forma de viver. Sinto que vou de transporte, que não conduzo. Mas por outro lado estou feliz. E talvez o problema seja esse. Ter percebido que tenho tantos outros interesses com os quais posso trair a minha arte. Estou em temperança. Deixei de correr tanto. E talvez a estranheza venha disso. Deste novo sedentarismo. Estou mais pacífico, menos ansioso. Vivi tanto tempo em velocidade que esta experimentação menos irrequieta me traz suspeitas. Ainda olho com espanto as outras vidas que aspiro, mas não me permitiram ainda. Por isso vou dizendo sim ao que me diz sim. Estou mais calmo, mais estável. A felicidade é quando a realidade corresponde à expectativa e, em verdade, a realidade tem-me oferecido mais ainda. Mas de uma forma diferente. Já não me stressa tanto o mundo. Larguei queixumes antigos. Mas fui esse ser durante tanto tempo que questiono a sua ausência. Não sei. A ver. Cada coisa a seu tempo. Vai-te enchendo do que tens agora à frente. Aproveita o que consegues alcançar. Lembra-te que passaste uma vida a viver de hipóteses que – muitas delas – não se concretizaram. Por isso deixa-te ser apenas. Acredita que as coisas virão quando tiver que ser. Sabes que, em parte, estás assim porque lá fora chove e o dia caiu e estás sozinho. E como é hora de jantar e a casa está em silêncio estás-te a ouvir demasiado. E já não te ouvias há tanto tempo. Se o universo vai brincando contigo e lançando-te partidas, é sinal que está a olhar para ti. Por ti. Recebe-o. Aceita-o. Deixa que te desafie. Let it be, Filipe. Fizeste tudo o que tinhas para fazer hoje, não fizeste? Então está tudo certo. Nada é para sempre. Se queres voltar, poderás voltar. Se queres partir, podes partir também. Talvez possas ter tudo. Talvez possas ser tudo.


Comentários

  1. Quando pegas numa caneta, no meu caso num lápis, para escreveres basta teres o coração na ponta dos dedos. Depois, bem depois é fluir

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