Às 5
Tira-me do sono uma agitação indesejada. Há manhãs tardias em que não posso sair da cama e madrugadas em que a rejeito com gana despoletada. Sou daqueles que ora dorme doze horas, ora cinco. Ora cumprimento um sol cansado, ora acordo para o ver nascer.
Às vezes é o frio, outras vezes o calor. Por vezes é a fome e, outras, tarefas por cumprir.
Os dias agora são mais pequenos e li nos jornais que o horário de inverno é mais saudável. Mas sinto falta de luz. Luz foi a minha primeira palavra e por isso preciso dela - a literal e a outra, mais importante.
Hoje acordei a querer roer as unhas. Dizem que vergonha é roubar e ser apanhado, mas sou suspeito quando digo que vergonha é ser apanhado a roer unhas. Por isso o faço em segredo. Quem me é mais próximo conhece este meu mau hábito. Por vezes admito-o em confissão para me livrar da culpa e outras vezes apercebem-se das lascas mal aparadas na ponta dos dedos.
Eu de manhã gosto de me levantar e fazer a cama. Coloco pomada nas cicatrizes das costas, depois visto-me e lavo a cara com sabão. Vou até à cozinha e ligo a cafeteira. Escovo os dentes e, quando acabo, fico a ouvir a água borbulhar enquanto leio as notícias do dia anterior.
Uma manhã graciosa é o segredo para um bom dia. Mas a manhã deve ser quando a gente quiser.
Comentários
Enviar um comentário