Corro a cortina transparente do chuveiro e deixo as pingas escorrerem para o chão com tapete improvisado. Olho-me ao espelho, mas encontro-o embaciado. Não me quero secar. Ouço Sting, que me deixa sempre com vontade de chorar. 
Encontro na tábua instável um corta-unhas perdido e debruço-me de joelhos no chão. 
Miro o meu polegar esquerdo e não posso deixar de notar em como é uma cópia chapada do do meu pai. Na dúvida, identificar-se-ia esta descendência pelo formato da unha. Mas só a esquerda, creio. Lembro-me de pensar em como o polegar dele parecia tão forte, tão à homem. E não sei como deixei escapar a evolução do meu. Como só agora, de um momento para o outro, olho para o meu polegar e vejo o do meu pai. Olho para a minha unha e vejo uma unha adulta. A dele.

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