Simbiose

Sento-me na cama com as memórias da Linha M da Patti Smith e dá-me uma ânsia súbita de escrever. Lá fora desdobra-se uma tempestade como não há muito e suponho que seja essa a razão para tão abruptamente me querer exprimir. Mas não tenho nada de novo para dizer. 
Os cobertores tapam-me as pernas e as meias apertadas dão-me comichão no tornozelo. Hoje acordei quase à 1 da tarde com o corpo totalmente arrebentado do Natal. Uma lassidão daquelas que deixa o rasto do andar no chão. Creio que isso me tenha deixado mais introspectivo. Na ausência de hegemonia física, ficou o querer artístico. Mas não tenho nada de novo para dizer. 
É bom não ter nada de novo para dizer. Ter um pensamento novo é uma agonia. As ideias doem quando rejeitadas e ocupam muito espaço quando as recebo. Não dão sossego enquanto não são tangíveis. Aniquilam a paz. Egoístas. Hipócritas. Simbióticas. Mas não tenho nada de novo para dizer. 
É 26 de dezembro. Ou 27, não sei bem. O que sei é que esta semana se disfarça de quadra sabática do ano. Um buraco no calendário. Como se ao tempo fosse dada licença para não existir. Como se o lá fora não fosse real. Mas não tenho nada de novo para dizer. 
Está silêncio e eu gosto disso. Porque é de madrugada e todos dormem e faz-se tempestade. Talvez deva começar a fumar com mais frequência. Seria uma boa desculpa para me forçar a ter mais momentos de silêncio. Um bom pretexto para ter que me isolar de ti e fazer-me par do ar fresco. Mesmo com tempestade. O vício não escolhe ocasiões e entre cigarros refletiria. Meditabundo já eu sou. Mas não tenho nada de novo para dizer. 

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