Banido
Não me custa a solidão, custa-me o abandono. Esse entristece-me e
mata-me. Tenho-o sentido e dói. Não é que as convide, mas por vezes aceito as
emoções negativas. Os pequenos demónios auspiciosos que alimentam o meu ego
masoquista quando este sente fome. Mas desta vez eles surgiram sem
encorajamento. Apareceram sem bater à porta e parecem ter vindo para ficar.
Roubaram o líquido que dou de beber ao ego narcisista e plantam-se na raiz
do sítio que sou. Não é que a demissão que me aplicaram seja totalmente
literal, mas também de metafísica vive o mundo. Nada ou ninguém rompeu comigo
ou me renegou, simplesmente vão-se. Ou nunca chegaram. Não é pessoal, sei-o
bem. Jurava-o em papel ungido, se pudesse, mas não posso. Eu próprio também
abandono e não vem de um espaço de perversão. Mas é pior que o ódio. Ignorar é
uma ofensiva gelada. A indiferença. A indiferença, sim, é o oposto de amor.
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