O Terceiro Elemento

    O mundo não existe sem um terceiro. Chamemos-lhe o Terceiro Elemento: uma entidade vigilante que, numa atitude de voyeurista omnipresente, credibiliza a realidade e toda a ação vigente. Pressupõe-se que o belo, o bom, a qualidade, a calma, etc., não existem num patamar isolado. Tudo resulta da inter-relação do sujeito com o objeto que demarcam o evento. E haverá sempre a tentação e a tendência insurgente de perguntar a esse absolutismo um "comparativamente a quê?". Belo? Comparativamente a quê? Calmo? Comparativamente a quê? A lição memorizada de que algo é belo por si mesmo não parece somar seguidores fora do contexto académico. É retórica cansativa. O contra argumento interrogatório permanecerá um espaçoso elefante na sala sem a permissão do conceito do Quê.

    O Quê terá que existir sempre. É ele a nossa audiência. É ele o percursor do acontecimento por ser ele que o testemunha como participante não ativo. Isso legitima e dá consciência à criação. Este organismo não carrega em si uma essência obrigatoriamente pré-industrial, nem tampouco surge num patamar virtual digital. Existiu sempre e sempre existirá, pelo que não se pode confundir com tendências que cairão em desuso. O Quê é infinito. E, na eventualidade de não poder ser material ou divino, assumirá sempre uma fisicalidade moral ou valorativa.

    A relação e a comunicação são inevitavelmente triangulares. Agiremos sempre para ou por uma audiência (in)visível e fiscal que tanto pode ser uma constituição afastada dos intervenientes, como uma extensão de si e dos seus sentidos. Em momentos de solitude em que o objeto se ausenta, o sujeito não sobrevive destacado. Desse mesmo modo, ambos também não perdurariam numa junção eremítica e limitada. Necessitam de algo que tome consciência e conta dos dois. Que os aceite e reconheça. Existe sempre a presença subentendida deste Terceiro Elemento silencioso que foi acordada tacitamente pelos restantes. Talvez até, num outro plano, seja necessária a aceitação de um quarto elemento que autentique o terceiro.