Bonança

Corram-se persianas, respire-se o vento
Contemplo a paisagem d'há muito tempo
Quarto crescente, eterno alimento
Pintas de páramo, alarg'o pensamento

Correm-se as ondas lá do fundo
Rumor distante vem do submundo
Luna algente que principia o mundo
Expanda-se o peito, retiro profundo

Cidade distante, civilização ausente
Descobre-se no brio um sempre quente
Falares retraídos, aldeia dormente
Rode-se a fonte, é puro presente 

Sombras celestes, torres negras
Em parapeito térreo miro as estrelas
Amplifico ser, recebo as auréolas
Apronto-me aqui para recebe-las

Abra-se a boca, solte-se o frio
Beije-se a nuvem, amore mio
Montanha suspensa, espirito bravio
A pele agreste d'um coração macio

O molhar reflete, nasce o espelho
Círculo noturno hoj'é meu parelho
Escrevo por alto o meu evangelho
Tom de silêncio acaba em conselho

Em mudez surge minha meditação
Vou urgindo, busco a manifestação
De quando em quando esqueço a comunhão
Da serra e do ar, minha maturação

Enquadre-se tudo, meia madrugada
Eleição reclamada, dileção soprada
Vontade amada em mim prensada
Repouso em mim, intento a pujança
Bonança 

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