Nós conhecemos pessoas e coisas e arte. E isso repara-nos o coração de algo que antes o partiu. Assim que todos os pedaços se voltam a juntar, separados por pequenas fendas do passado, são essas mesmas pessoas e coisas e arte que nos voltam a estilhaçar: a suspender a alma e sugar o espírito. Mas também são elas, ou outras, que, seguidamente, nos dão vida e reparam o vazio, apenas para que o vazio seja trazido novamente. É um nascer e morrer constante, até que perecemos de vez. É um processo, é um ciclo sem fim. O que dita se as pessoas e coisas e arte são boas é o tempo e a fase em que surgem ou desaparecem da nossa vida - se quando estamos partidos ou inteiros.
Uma ode em três partes
CAPÍTULO I Conheci o Zé Carvalheiro numa ação de distribuição de bebidas gaseificadas. Fomos contratados para carregar mochilas térmicas de 15kg pelo verão infernal de Lisboa e só nos safou as que fomos bebendo à pala durante oito horas. Mais tarde reencontramo-nos numa ação de distribuição de mentos, mas nem as caixinhas que sobraram compensaram o preço que recebíamos à hora. Mas já não sei porque raio terá sido, ficamos amigos. O Zé estudou Belas Artes e agora é ilustrador no Público, mas na altura andávamos a fazer estes trabalhinhos de caca. Por vezes montava barracas na Feira da Ladra para exibir os seus trabalhos e cheguei a comprar-lhe um autocolante com uma ovelha que dizia "Life is a - meeeeh – zing", que guardei religiosamente na carteira. Uns meses depois descobrimos que éramos vizinhos. E em alturas em que eu não estava para aturar os 4 marmanjos com quem vivia, íamos à Paiva Couceiro ver os velhotes discutir e os putos ...
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