Nuvem

    Rendo-me à vigília profunda, que me perturba o pensamento. A névoa inconstante que me rodeia ilumina tudo o que sou. Hirto, apoio os dois pés numa nuvem de mente inconsciente, como se não me pertencesse. Distancio-me e estou alheio ao mundo; observo-o de cima. Vejo a cidade e apuro o meu olho crítico. Vejo, num olho não humano, a extensão de toda uma urbanização turbulenta. Oiço argumentos e preocupação que me parecem tão fúteis, vãs. Criam problemas que não existem, para se ocuparem. O segredo é a simplicidade do absoluto. As rezas direcionadas para os céus perdem-se, algures, pela estratosfera. Lá em baixo, uma realidade a que não me fundo. Não me multiplico com eles, mas desconstruo-me de tudo, de que sou uno. Em cima, nada. Um vazio de nuvens ambientado por um silêncio infinito. Um deserto do que não mais existe.

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