Refúgio intermitente
Refugio-me no meu retiro de dois dias e fecho-me ao mundo, abrindo-me assim para ele. Medito assuntos que se multiplicam como rajadas de vento, como espíritos que rasgam o ar, na minha mente e anoto no caderno preto das minhas últimas palavras da década. Pensamentos de outros que gosto de guardar comigo. E que ano foi este. E que ano foi. E que forma de terminar. Rendido a sentimentos sobre tudo o que existe.
Passo o fósforo na caixa e incendeia-se-lhe a ponta, que beija no incenso, que vejo fumegar para o ar. O quarto que me rodeia está desarrumado mas não me importa, contrariamente ao costume. Na verdade, sinto que tudo está bastante organizado, tudo precisamente no seu sítio. O humano que há em mim mudaria uma coisa ou outra, mas ele consegue ser bastante obstinado. Eu estou bem, porque está tudo onde devia estar.
Devia descer até aos montes de casa, mas hoje não sinto essa vontade. Tê-lo-ei que fazer amanhã, de qualquer das formas. Hoje sinto necessidade de silêncio. Hoje experimento a vontade de ouvir, de partilhar sem abrir a boca. A solitude do momento. O transe. Um estado transitivo.
Às vezes gosto de não falar, porque ficará sempre algo por dizer. Desligo a música que até agora abanava as paredes do espaço e noto que me movimento em câmara lenta, embora os sons lá fora, vindos da cidade, continuem vertiginosos. Levanto-me, faço a cama e arrumo-me. Mudança de ciclo.
Passo o fósforo na caixa e incendeia-se-lhe a ponta, que beija no incenso, que vejo fumegar para o ar. O quarto que me rodeia está desarrumado mas não me importa, contrariamente ao costume. Na verdade, sinto que tudo está bastante organizado, tudo precisamente no seu sítio. O humano que há em mim mudaria uma coisa ou outra, mas ele consegue ser bastante obstinado. Eu estou bem, porque está tudo onde devia estar.
Devia descer até aos montes de casa, mas hoje não sinto essa vontade. Tê-lo-ei que fazer amanhã, de qualquer das formas. Hoje sinto necessidade de silêncio. Hoje experimento a vontade de ouvir, de partilhar sem abrir a boca. A solitude do momento. O transe. Um estado transitivo.
Às vezes gosto de não falar, porque ficará sempre algo por dizer. Desligo a música que até agora abanava as paredes do espaço e noto que me movimento em câmara lenta, embora os sons lá fora, vindos da cidade, continuem vertiginosos. Levanto-me, faço a cama e arrumo-me. Mudança de ciclo.
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