O Agora

    Mais uma vez adormeci no recanto que erradamente insiste em ser meu lar. Teimoso e conformado lá me deitei, até que Algo ou alguém me despertou num abanão suave interior. A lua cheia que brevemente me abandonará toca-me e os meus pés esfriam na relva noturna. Olho para o chão e surge, em sombra, a minha figura. O olhar volta a focar o ponto brilhante e pequenas estrelas vão surgindo num pintado céu negro. Densas rochas estendiam-se diante de mim em montes que tornavam o espaço quase claustrofóbico. Mergulhar num rio gélido de fim de ciclo trouxe-me lucidez. Tento lembrar-me de tudo mas sinceramente não me interessa. Passou e foi bom.
    Eu sou, de momento. Uma pilha de textos em rascunho que me recuso a terminar pelo tempo de vida que as palavras me tirarão. Apaixonado por tudo, quase numa ânsia de trazer ao mundo e registar nele partes de mim. Um brilho (ou é um fogo? Uma chama fresca) confortável vive no centro do meu tronco já há uns dias e assim estou. Podia parar o tempo e assim ficar para sempre se não fosse por uma vontade de fazer que não morre. Criar. Partilhar. Não desperdiçar.
    Paz. Paz. Paz. Sinto-me grato e saudável e tudo o que me rodeia é harmonioso. Tudo parece tão energético, tão nítido. Poesia viva. Acho que me encontrei. De vez. Uma sinfonia de notas juntam-se e são acompanhadas por um coro que é tudo. Metáforas que dificilmente fazem jus à complexidade simplista que dentro de mim habita. Tanta vontade de saber como de deixar ser. As coisas são. Eu sou. E assim é.

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