Acordei com o som do céu a desabar, como se o abrigo de uma caverna tivesse sido destruído e tudo perdesse a estabilidade, prestes a desmoronar. Na mente surgiu-me a imagem de um trovão brilhante que rasgou o céu, cegando-me - tudo se ofuscou durante vários segundos. Cambaleei para fora da cama e bati com o ombro na parede. Aí, de pé e em desiquilíbrio, deixei-me recuperar pela rapidez com que despertei. A casa estava escura e, de braços esticados, fui apalpando caminho pelo corredor. O som dos meus pés descalços, em passo lento e descoordenado, combinava com o som da chuva e dos trovões lá fora. Aos poucos fui desbloqueando acessos e cheguei à sala. Num movimento frágil, agarrei-me à porta da entrada e debrucei-me para dentro da divisão, em direção à janela. Cerrei os olhos, antes fechados, para focar melhor o mundo e, pela frincha, consegui contemplar a tempestade. Gosto de temporais, quando a bonança dá lugar a algo místico, sobrenatural; quando os imortais se revelam em sobressalto. Quando nos gritam e perturbam a sanidade. A nós, desarmados, resta-nos acordar.
O pouco tempo em que observei o exterior permitiu-me tudo ver. Pesadas gotas de chuva morriam algures lá em baixo, abençoando a queda. A tragetória da água criava vetores verticalmente paralelos à medida que era dominada pela tendência. Não sei que horas eram, nem me dignei a ver, os meus olhos cansados castigar-me-iam se o fizesse. Era de madrugada e deviam ser três da manhã - são sempre três da manhã.
O pouco tempo em que observei o exterior permitiu-me tudo ver. Pesadas gotas de chuva morriam algures lá em baixo, abençoando a queda. A tragetória da água criava vetores verticalmente paralelos à medida que era dominada pela tendência. Não sei que horas eram, nem me dignei a ver, os meus olhos cansados castigar-me-iam se o fizesse. Era de madrugada e deviam ser três da manhã - são sempre três da manhã.
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