Uma pós-produção fotográfica tratada, embelezada e, até mesmo, dissemelhante da realidade não pode, a meu ver, ser alvo de crítica. Nos poucos milésimos de segundos que se passam no momento da captura, não é apenas o resultado fotográfico que atrai o fotógrafo. É o olhar para o objeto a olho nu, o caminho até o ver pela lente, o momento perfeito de captura, a verificação do resultado e contemplar, de novo, o objeto a olho nu. Durante esse momento, tudo afeta a mente de quem manuseia uma câmara - o cheiro, os sons, o espaço, a presença do alvo - atributos estes de que a foto original nem sempre faz jus. O resultado final de uma fotografia não é apenas o que verdadeiramente aconteceu. É uma mistura entre a realidade, a visão do profissional e aquilo que ele quer trazer ao mundo. É esse renascer pessoal da realidade que faz da fotografia, arte.
Uma ode em três partes
CAPÍTULO I Conheci o Zé Carvalheiro numa ação de distribuição de bebidas gaseificadas. Fomos contratados para carregar mochilas térmicas de 15kg pelo verão infernal de Lisboa e só nos safou as que fomos bebendo à pala durante oito horas. Mais tarde reencontramo-nos numa ação de distribuição de mentos, mas nem as caixinhas que sobraram compensaram o preço que recebíamos à hora. Mas já não sei porque raio terá sido, ficamos amigos. O Zé estudou Belas Artes e agora é ilustrador no Público, mas na altura andávamos a fazer estes trabalhinhos de caca. Por vezes montava barracas na Feira da Ladra para exibir os seus trabalhos e cheguei a comprar-lhe um autocolante com uma ovelha que dizia "Life is a - meeeeh – zing", que guardei religiosamente na carteira. Uns meses depois descobrimos que éramos vizinhos. E em alturas em que eu não estava para aturar os 4 marmanjos com quem vivia, íamos à Paiva Couceiro ver os velhotes discutir e os putos ...
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