Escrevo e registo um pouco de mim, deixando um rasto à medida que caminho. Olho para trás e vejo as minhas pegadas em cada letra, numa praia que é o livro. Atribuo muito de mim ao que faço, porque nada mais sou eu do que o que realizo. Mas tudo parece ser tão efémero, deixar parte minha em algo tão frágil, irrelevante, facilmente esquecido e substituído. Nada é mais paradoxal que um texto, que nasce e morre no seu momento de criação e assim se imortaliza. Um pouco como nós.
Uma ode em três partes
CAPÍTULO I Conheci o Zé Carvalheiro numa ação de distribuição de bebidas gaseificadas. Fomos contratados para carregar mochilas térmicas de 15kg pelo verão infernal de Lisboa e só nos safou as que fomos bebendo à pala durante oito horas. Mais tarde reencontramo-nos numa ação de distribuição de mentos, mas nem as caixinhas que sobraram compensaram o preço que recebíamos à hora. Mas já não sei porque raio terá sido, ficamos amigos. O Zé estudou Belas Artes e agora é ilustrador no Público, mas na altura andávamos a fazer estes trabalhinhos de caca. Por vezes montava barracas na Feira da Ladra para exibir os seus trabalhos e cheguei a comprar-lhe um autocolante com uma ovelha que dizia "Life is a - meeeeh – zing", que guardei religiosamente na carteira. Uns meses depois descobrimos que éramos vizinhos. E em alturas em que eu não estava para aturar os 4 marmanjos com quem vivia, íamos à Paiva Couceiro ver os velhotes discutir e os putos ...
Comentários
Enviar um comentário