Um dia
A água gelada foi prenchida pelos
meus pés à medida que caminhava pela pequena cascata, tendo como meta o centro
do rio. Repousei de joelhos numa rocha acastanhada pela cor do dia e a corrente
contornou as minhas pernas para pecorrer o seu infinito caminho. As minhas
maõs perfuraram a água e agarraram-se a
uma pedra submersa e coberta de musgo; os meus braços fletiram à medida que a
cabeça entrava na água e assim era benzido. Decidi levantar-me calmamente à medida
que as pingas que me escorriam do cabelo me gelavam o corpo. Respirei.
Abri os braços e contemplei: o sol incidiu e rasgou a superficie de água e era agora possível ver as pequenas folhas e troncos que boiavam projetadas no fundo do rio. Movi-me como que a cumprimentar tudo que me rodeava e flutuei os braços numa dança parada. Oeste, Este, céu. Oeste, Este, céu. Inspirei profundamente e o vento soprou. À minha direita as arvores tremiam e lançaram-me pequenos flocos de algodão que voavam na minha direção. Aquilo que mais se assemelhou a neve não se apressou em cessar, como que a comprovar que era real. Encheram o ar e todo o espaço que me rodeou; envolveram-me, abraçaram e finalmente extinguiram-se à minha esquerda. Curioso e ainda com a imensidão de branco na memória, fechei os olhos e levei as mãos à água. As mãos mortas percorriam o horizonte e uniram-se em triângulo no cimo de mim. As pingas de água escorriam-me pelos braços e acariciavam-me levemente as costas.
E foi então que a queda de água à minha retaguarda pareceu presenciar um momento de fúria. Numa angústia que ofuscou tudo o resto, a cascata calou os pássaros, as borboletas, rãs e todo aquele pequeno mundo. Com as mãos a tocar no céu, o som que era agora barulho entrou-me pelos ouvidos e criou um vazio onde se prendeu. Pressionou-me a cabeça mas logo se rendeu à restante natureza. O que à partida foi acreditado como um ataque de raiva, logo se reconheceu como uma maneira de somente me relembrar, face aos elementos, qual é o meu saber.
Dei um passo em frente e dei por mim coberto de água até ao peito. As minhas palmas tocavam de leve na superficie da água e voltei-me para onde outrora estivera. Respirei fundo, fechei os olhos e deixei-me cair para trás. Todo o meu corpo ficou mergulhado – apenas um pouco da cara se descobriu para me ser permitido respirar. De olhos fechados e braços abertos,fui honrado pelo poder frio daquelas águas. O meu corpo submerso estava agora a queimar com tamanha imensidão gélida. Aos poucos senti-me ser levitado e remexido e lentamente me apercebi que estava a ser transportado. Estava a ser movido em circulo e abri os olhos quando as minhas costas se voltavam para a cascata. Não superei aquele frio e saí da água.
Agora de volta à superficie da queda de água, levei um joelho à rocha e assim fiquei. Senti as minhas costas ainda a fervilhar e aos poucos arrefecer. E então levantei-me; percorri as restantes rochas submersas e pisei o verde fértil.
Abri os braços e contemplei: o sol incidiu e rasgou a superficie de água e era agora possível ver as pequenas folhas e troncos que boiavam projetadas no fundo do rio. Movi-me como que a cumprimentar tudo que me rodeava e flutuei os braços numa dança parada. Oeste, Este, céu. Oeste, Este, céu. Inspirei profundamente e o vento soprou. À minha direita as arvores tremiam e lançaram-me pequenos flocos de algodão que voavam na minha direção. Aquilo que mais se assemelhou a neve não se apressou em cessar, como que a comprovar que era real. Encheram o ar e todo o espaço que me rodeou; envolveram-me, abraçaram e finalmente extinguiram-se à minha esquerda. Curioso e ainda com a imensidão de branco na memória, fechei os olhos e levei as mãos à água. As mãos mortas percorriam o horizonte e uniram-se em triângulo no cimo de mim. As pingas de água escorriam-me pelos braços e acariciavam-me levemente as costas.
E foi então que a queda de água à minha retaguarda pareceu presenciar um momento de fúria. Numa angústia que ofuscou tudo o resto, a cascata calou os pássaros, as borboletas, rãs e todo aquele pequeno mundo. Com as mãos a tocar no céu, o som que era agora barulho entrou-me pelos ouvidos e criou um vazio onde se prendeu. Pressionou-me a cabeça mas logo se rendeu à restante natureza. O que à partida foi acreditado como um ataque de raiva, logo se reconheceu como uma maneira de somente me relembrar, face aos elementos, qual é o meu saber.
Dei um passo em frente e dei por mim coberto de água até ao peito. As minhas palmas tocavam de leve na superficie da água e voltei-me para onde outrora estivera. Respirei fundo, fechei os olhos e deixei-me cair para trás. Todo o meu corpo ficou mergulhado – apenas um pouco da cara se descobriu para me ser permitido respirar. De olhos fechados e braços abertos,fui honrado pelo poder frio daquelas águas. O meu corpo submerso estava agora a queimar com tamanha imensidão gélida. Aos poucos senti-me ser levitado e remexido e lentamente me apercebi que estava a ser transportado. Estava a ser movido em circulo e abri os olhos quando as minhas costas se voltavam para a cascata. Não superei aquele frio e saí da água.
Agora de volta à superficie da queda de água, levei um joelho à rocha e assim fiquei. Senti as minhas costas ainda a fervilhar e aos poucos arrefecer. E então levantei-me; percorri as restantes rochas submersas e pisei o verde fértil.
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