Banhos frios

    A sombra invade-me por tempo demais. O peso é insuportável e só me resta desprender. O humano em mim não vai embora e turva-me a visão. Um entrave. Uma barreira que me impede e me demora. Preciso de repousar, largá-lo. O simbionte quer-me controlar e deixo-me domar...
    Aprovo que a água escorra por mim durante aqueles três banhos frios, e deixo-me a secar. O vento escorre-me a fonte de vida do cabelo e sinto-a acariciar-me, lentamente, o rosto. Quando finalmente alcança o queixo, tomba a meus pés e ouço a pequena gota esvaziar-se.
    Uma lança de vento penetra-me pelo peito e sinto-o a abandonar-me pelas costas.
    Aos poucos toda a água evapora e, aos poucos, um novo eu.

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