Uma noite com a Lua

    Não tenho por objetivo que as próximas palavras sejam bonitas. Não procuro um monólogo eloquente, em que jogo com as palavras de maneira a tornar o texto mais rico e de bela leitura. Quero apenas deixar por escrito esta noite.
    Estou nos meus 17 anos e espera-me a mudança. Os anos que viverei brevemente serão decisivos para ditar o meu futuro e não há nada que eu possa fazer em relação a isso: "A mudança é como a morte: inevitável" (S.N.). E não foi por acaso que hoje surgiram duas conversas em relação à mudança. Conversas estas que me atiraram para a varanda para meditar, como faço regularmente antes de me deitar.
    Pois bem, hoje é noite de Lua Cheia (ao contrário do que dizia o calendário lunar, onde seria ontem) e o céu escuro, mais claro nas bordas, é iluminado por uma lua, que não me é permitido observar devido à localização da minha varanda, e estrelas brilhantes que intensificam a cor clara do céu.
    Inspira, expira... Inspira, expira.
    O ar está puro e ouve-se vários animais ao longe. Os enormes pinheiros que me olhavam ganhavam uma cor sombria a esta altura da noite, mas a minha atenção estava voltada para as estrelas. Levantei-me e ardi um papel. Gosto do ambiente causado por uma chama. O Fogo - algo tão místico mas que pode ser evocado em qualquer situação.
    Pousei o papel no muro e deixei-o queimar.
    Voltei-me a sentar e observei a beleza daquela noite clara. É estranho como o ser humano busca pela perfeição quando ela está à nossa frente, nas pequenas coisas. Algo tão belo e perfeito como o céu, que nos sobrepõe as cabeças todos os dias, mas à qual muitos não dão valor.
    Os meus pensamentos fluíam mas interromperam-se quando a chama cessou no papel parcialmente queimado e este voou, aterrando no chão do meu quintal. Desci para o apanhar e foi então que me apercebi que a sua queda não fora um acaso.
    A lua.
    O sábio corpo celeste brilhava ferozmente no céu, iluminando a enormíssima nuvem que a rodeava.
    Foi quase como automática a reação: deitei-me na relva e, ignorando a sujidade que isso pudesse causar à minha roupa de dormir, observei o que me olhava diariamente.
    As nuvens encaracoladas assemelhavam-se ao mar, e as mais pequenas e leves, que se movimentavam com maior velocidade, os seus peixes. Tudo era um organismo vivo. Um pequeno universo mesmo no topo da minha cabeça.
    Não há palavras que descrevam o que senti. E eu não vou procurar por elas porque não as quero. O momento foi vivido e resta apenas um eco de sentimentos que não consigo pronunciar. E não adianta fazer algo para relembrar aquele momento, pois a lembrança não será tão boa como este o foi. Porque não há fotografia, desenho ou palavra que poderá fazer sentir o mesmo. Porque aquela noite passou... e eu vivi-a.


Comentários

  1. Meu neto querido, fico sempre estupefacta com as tuas historias tão sentidas,adoro o que tu escreves,gostava partilha-las com meus amigos para verem como tenho um neto com muito valor,beijinhos da avó que te ama

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