Condenado à Eternidade

-
Estou condenado a uma vida eterna.
Sou domado por um tempo que não me leva.
Meu espírito é controlado por um tempo que não o espera
E eu vivo, aqui parado, até que um outro ser me desperta.

Não foi esta a única vida, aquela em que me perco
E a outra que prosseguirá é incógnito, incerto.
À medida que o tempo passa, da velhice eu estou mais perto
Mas não importa o tempo que passe, pois o tempo permanece inerte.

O meu espírito nunca sangra,
Pois é o meu pobre corpo que se cansa.
Do meu espírito nenhum lágrima escorre,
É o meu corpo que perde a esperança.

Despeço-me de seres que habitei em águas passadas
Eles morrem mas o meu espírito caminha, às cabeçadas
Continuo a percorrer estes rios, estas estradas
Até o meu espírito ver um novo corpo, nova estada.

Vagueio por este passeio, sou uma criação da antiguidade
Infelizmente nunca senti, da vida passada, alguma saudade
Ainda não recordo por onde passei, não sei com que me cruzei
Só sei que aqui permaneço, condenado à Eternidade.

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Uma ode em três partes

-
Imagem
CAPÍTULO I Conheci o Zé Carvalheiro numa ação de distribuição de bebidas gaseificadas. Fomos contratados para carregar mochilas térmicas de 15kg pelo verão infernal de Lisboa e só nos safou as que fomos bebendo à pala durante oito horas. Mais tarde reencontramo-nos numa ação de distribuição de mentos, mas nem as caixinhas que sobraram compensaram o preço que recebíamos à hora.     Mas já não sei porque raio terá sido, ficamos amigos.       O Zé estudou Belas Artes e agora é ilustrador no Público, mas na altura andávamos a fazer estes trabalhinhos de caca. Por vezes montava barracas na Feira da Ladra para exibir os seus trabalhos e cheguei a comprar-lhe um autocolante com uma ovelha que dizia "Life is a - meeeeh – zing", que guardei religiosamente na carteira.     Uns meses depois descobrimos que éramos vizinhos. E em alturas em que eu não estava para aturar os 4 marmanjos com quem vivia, íamos à Paiva Couceiro ver os velhotes discutir e os putos ...
Ler mais

Isto não é uma pub

-
O meu irmão trabalha no McDonald’s e com o tempo foi acumulando cupões de refeição. No Natal, para gozar comigo, ofereceu-me 5 vales para gastar até ao final do ano e então fui lá hoje.      Não como isto desde 2019, mais por recorde do que por outra coisa, mas estamos a falar de 5 refeições à pala - outro recorde que não me importo de adicionar ao meu arsenal. A minha mãe sugeriu irmos a outra franquia que não a dele para “não envergonhar o miúdo” e eu concordei.     Quando venho a casa, uso quase sempre os fatos de treino do meu irmão porque deixo a minha roupa em Lisboa, por isso entrei, que nem um mãos largas, de calças de pijama no restaurante.      Atravesso em câmara lenta o amontoado de pessoas que vão reclamando com o touchscreen das máquinas de self-service e vou diretamente à caixa, completamente vazia.     Atiro os cinco cupões, que nem um dealer de casino, para o balcão, e o gajo fica a olhar para mim enquanto me esbanjo...
Ler mais

O apagão

-
Segunda feira, 28 de abril de 2025.  Apagão total em vários países da Europa. i. Só me apercebi porque o trânsito ficou, de repente, caótico. Nos cruzamentos ninguém respeitava ninguém, e decidiam por eles próprios que direções tomar. Os carros estavam todos atabalhuados em para-arrancas e hesitações, e só aí me apercebi que os semáforos não funcionavam.     Depois os passeios começaram a encher. As pessoas saíam das casas e vinham para a rua ver o que se passava. Estavam todas ao telemóvel, ora em chamadas telefónicas, ora a prepararem-se para.     Caminhei imune a tudo, interpretando como exceção, até que me apercebi que não o era.     As pessoas caminhavam mais apressadas, com urgência, e comecei a ouvir as primeiras sirenes ao longe.     Foi aí que tirei os fones para ouvir, como se um sentido extra fosse resolver uma situação global. Peguei no telemóvel e liguei os dados móveis, que estavam mais lentos e demoraram mais a carregar.  ...
Ler mais