Não negociável

Faz-me realmente diferença ter passado a ir a Braga mais vezes. Na distância e na ausência, na vida em independência, tenho notado que me é fundamental recarregar-me de e recarregar os meus. Isto porque tenho a noção do quão sortudo sou por ter nascido com uma família que, embora não tenha escolhido, seria exatamente a mesma caso o tivesse feito.
     E desta última vez não senti o sufoco que senti das outras, em que a instabilidade económica me deixava a incerteza de não saber quando voltar. Desta vez não senti o desespero de não terminar o abraço, nem o medo de desaproveitar o tempo e o deixar expirar. Desta vez pude respirar. Pude andar de bicicleta, ir ao cinema, mergulhar no rio, estar com um amigo, fazer uma sessão fotográfica, rever fotos antigas, rever vídeos antigos, estar com uma amiga, caminhar pelo centro e respira-lo com outros olhos. Visitei o meu irmão no local de trabalho, fui buscá-lo à escola, fui barrado no cinema, escrevi, li, votei, fiz dois castings, recebi um quase-cafuné, trabalhei remotamente, pude realmente estar com a minha avó. Conduzi, cozinhei, comi, e olhei para um céu verdadeiramente estrelado.
    E se pude fazer tudo isto em três dias, foi porque dormi muito pouco. Sinto essa exaustão; o corpo em ressaca e o cérebro em nevoeiro. Mas sempre que vou a casa recuso dormir. Ora porque gosto de me sentir acordado ali, ora porque gosto de acordar cedo para estar com eles. 
    E quando o confesso a uma amiga e espero que me repreenda e me aconselhe a descansar, eis que me diz: “Tu não precisas de descansar mais; tu precisas é de ir a casa mais vezes”.
    E tem razão.
    Já defini para mim o meu maior não negociável: o regresso a casa. Porque por muito que nem sempre me descanse o corpo, descansa tudo o resto.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saudades Precoces

Remelas e selfies em hospitais

Daddy issues.