Gosto do café no ponto de me queimar a língua. Quando viajo, transporto comigo um frasquinho de grãos esmagados e faço da sua degustação um hábito de socialismo individual. Em intervalos e apenas sozinho, tiro tempo para ir buscar o frasco escondido no canto de um quarto qualquer e procuro onde ferver a água. Sinto-me quase clandestino. Depois recosto-me e cruzo a perna. Bebo sempre duas chávenas, nunca me fico por apenas uma. O resultado é um vício preenchido, o estômago cheio e, por vezes, um lábio em ferida.
Uma ode em três partes
CAPÍTULO I Conheci o Zé Carvalheiro numa ação de distribuição de bebidas gaseificadas. Fomos contratados para carregar mochilas térmicas de 15kg pelo verão infernal de Lisboa e só nos safou as que fomos bebendo à pala durante oito horas. Mais tarde reencontramo-nos numa ação de distribuição de mentos, mas nem as caixinhas que sobraram compensaram o preço que recebíamos à hora. Mas já não sei porque raio terá sido, ficamos amigos. O Zé estudou Belas Artes e agora é ilustrador no Público, mas na altura andávamos a fazer estes trabalhinhos de caca. Por vezes montava barracas na Feira da Ladra para exibir os seus trabalhos e cheguei a comprar-lhe um autocolante com uma ovelha que dizia "Life is a - meeeeh – zing", que guardei religiosamente na carteira. Uns meses depois descobrimos que éramos vizinhos. E em alturas em que eu não estava para aturar os 4 marmanjos com quem vivia, íamos à Paiva Couceiro ver os velhotes discutir e os putos ...
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