Mas que merda, que tão bom é. Do que gostava mesmo, neste minuto que já passou mas o desejo mantém vivo, era de poder deixar uma mensagem a Saramago. Algo assim, curto e grosso. Ele que nem a lesse, pouco me importaria, mas que a oportunidade fosse palpável. "Enquanto calamos as perguntas, mantemos a ilusão de que poderemos vir a saber as respostas". Fútil é que, neste caso, isso e nada se aplica. Escrevia-se, na 349, linhas antes da referência a Bracara Augusta, que o que importa é ter sido, não é que venha a ser lida: e faço das tuas, minhas. Anunciar, mas que nada tem de novo, o quão sonante a sua junção silábica é e o quão enaltece a voz de quem o lê em alto. Mas não o consigo manifestar; não a ele. Não o posso, até. Por ventura talvez essa seja a forma realista que Tem, enquanto morto, de se manifestar em quem ainda vive. Em mim, que o coração bate rápido demais. A imortalidade é casamento de palavras.
Uma ode em três partes
CAPÍTULO I Conheci o Zé Carvalheiro numa ação de distribuição de bebidas gaseificadas. Fomos contratados para carregar mochilas térmicas de 15kg pelo verão infernal de Lisboa e só nos safou as que fomos bebendo à pala durante oito horas. Mais tarde reencontramo-nos numa ação de distribuição de mentos, mas nem as caixinhas que sobraram compensaram o preço que recebíamos à hora. Mas já não sei porque raio terá sido, ficamos amigos. O Zé estudou Belas Artes e agora é ilustrador no Público, mas na altura andávamos a fazer estes trabalhinhos de caca. Por vezes montava barracas na Feira da Ladra para exibir os seus trabalhos e cheguei a comprar-lhe um autocolante com uma ovelha que dizia "Life is a - meeeeh – zing", que guardei religiosamente na carteira. Uns meses depois descobrimos que éramos vizinhos. E em alturas em que eu não estava para aturar os 4 marmanjos com quem vivia, íamos à Paiva Couceiro ver os velhotes discutir e os putos ...
Comentários
Enviar um comentário