Organizo pensamentos em folhas de papel, e as folhas de papel organizam-me a mim. Devo ter algum tipo de condição que me leva a gostar de uma esquematização razoável do meu espaço de trabalho; que o meu recinto mental se encontre devidamente sistematizado. Raramente o está, a verdade é essa, e talvez, daí, nasça a minha obsessão, impulsiva, que me trepida numa invasão improvisada.
Confino-me em quatro paredes e há muito a minha liberdade não era exponencial assim. O que é o mundo se não várias dimensões que nos esbarram? Não sou crente. Não, não o sou. Não é uma questão de crença ou de ceticismo. Não é fé, não é uma visão desamparada. Não é uma sentença que me desprotege. Não é fragilidade. É palpável. É algo que permito aos meus sentidos experimentar, que o meu senso aceita e que o meu além-mar confere. É real, físico, até; observável. Existe e, em absoluto, rodeia-me. Uma complexidade incognoscível dentro de certos recursos limitativos.
Tenho caminhado, dentro do plano da legalidade, no exterior (agora mais interno que o especulado), e tenho-me permitido a ouvir o nada. Não me refiro ao "escutar"; reforço o "ouvir". Não num enfoque metafórico, mas carnal. Nunca tinha ouvido o nada, assim. Não aqui, onde o nada, até à data, alcançara um estado de ausência pertinente e não chegara a nascer, nunca. Noto uns ousados que por aí, tal como eu, também caminham. Deleito-me com as ruas vazias e duas senhoras que se comunicam, cada qual na sua varanda, de um lado para o outro da alameda, quando eu, em afoito inconsciente, coloco um pé à frente do outro, em ritmo contínuo, no centro da estrada.
Faço uma vénia perante o ato da observação. É coisa boa, ora é. Atento, em constância, o mundo que me rodeia. Não o dogmatizo como sendo um ávido consumidor de conteúdos mediáticos, que não sou (embora devesse exigir, de mim próprio, uma permanente atualização do social), mas como observador do que, de facto, me rodeia - o que se passa no perímetro em que estou e que a vista alcança. Apoiar-se na própria visão, embora, muitas vezes, parcial, mínima e subjetiva, e que deve ser considerada com ininterrupta desconfiança, acaba por ser o mais sensato. É nossa. Isso ninguém nos tira, embora condicionem a sua capacidade crítica. Contemplo as pequenas nuances que noto no mundo. As mudanças de cor que os ventos trazem. É a experiência o que mais nos elucida, estimula e educa.
Igualmente importante só o ato, por vezes exigente, da pausa. A interrupção, o intervalo. A misticamente mítica temperança. O instante de suspensão, de zarpar do imposto, de desimpedir, por vezes confundido com leviandade. Falo de uma conduta de fechamento. A espera, em ausência de expectativa, por algum tipo de inspiração paranormal. Um estado breve, porque apenas brevemente se pode falar do assunto, de minimalismo intelectual, correndo-se o risco de um tardamento do propósito, ou de um adiantamento impremeditado. Eventualmente, porque, por regra, assim é, surgirá o derradeiro incitamento.
Confino-me em quatro paredes e há muito a minha liberdade não era exponencial assim. O que é o mundo se não várias dimensões que nos esbarram? Não sou crente. Não, não o sou. Não é uma questão de crença ou de ceticismo. Não é fé, não é uma visão desamparada. Não é uma sentença que me desprotege. Não é fragilidade. É palpável. É algo que permito aos meus sentidos experimentar, que o meu senso aceita e que o meu além-mar confere. É real, físico, até; observável. Existe e, em absoluto, rodeia-me. Uma complexidade incognoscível dentro de certos recursos limitativos.
Tenho caminhado, dentro do plano da legalidade, no exterior (agora mais interno que o especulado), e tenho-me permitido a ouvir o nada. Não me refiro ao "escutar"; reforço o "ouvir". Não num enfoque metafórico, mas carnal. Nunca tinha ouvido o nada, assim. Não aqui, onde o nada, até à data, alcançara um estado de ausência pertinente e não chegara a nascer, nunca. Noto uns ousados que por aí, tal como eu, também caminham. Deleito-me com as ruas vazias e duas senhoras que se comunicam, cada qual na sua varanda, de um lado para o outro da alameda, quando eu, em afoito inconsciente, coloco um pé à frente do outro, em ritmo contínuo, no centro da estrada.
Faço uma vénia perante o ato da observação. É coisa boa, ora é. Atento, em constância, o mundo que me rodeia. Não o dogmatizo como sendo um ávido consumidor de conteúdos mediáticos, que não sou (embora devesse exigir, de mim próprio, uma permanente atualização do social), mas como observador do que, de facto, me rodeia - o que se passa no perímetro em que estou e que a vista alcança. Apoiar-se na própria visão, embora, muitas vezes, parcial, mínima e subjetiva, e que deve ser considerada com ininterrupta desconfiança, acaba por ser o mais sensato. É nossa. Isso ninguém nos tira, embora condicionem a sua capacidade crítica. Contemplo as pequenas nuances que noto no mundo. As mudanças de cor que os ventos trazem. É a experiência o que mais nos elucida, estimula e educa.
Igualmente importante só o ato, por vezes exigente, da pausa. A interrupção, o intervalo. A misticamente mítica temperança. O instante de suspensão, de zarpar do imposto, de desimpedir, por vezes confundido com leviandade. Falo de uma conduta de fechamento. A espera, em ausência de expectativa, por algum tipo de inspiração paranormal. Um estado breve, porque apenas brevemente se pode falar do assunto, de minimalismo intelectual, correndo-se o risco de um tardamento do propósito, ou de um adiantamento impremeditado. Eventualmente, porque, por regra, assim é, surgirá o derradeiro incitamento.
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