Antagonia de um ser imperfeito

O sol bate forte na lua e é uma noite clara
Tenho a perna esticada, pé bem assente, e encontro-me sentado
O estômago manifesta-se, mas estou sem fome
Coloco a câmara num tripé e elevo-a com um drone.

Está muito frio, daqueles que aquece
E estou com vontade de me aquecer, mas na verdade nem me apetece
Deitado, fecho os olhos, cai-me a primeira lágrima de sono e bocejo
Não quero monotonia; mas muito antes da hora, noto que adormeço.

No sonho estou acordado e faço café com canela
Ficou bastante aguado, mais parece chá de panela
Coloco-me numa balança e os números surgem negativos
Que estranho, me parece, e o pensamento sai-me em fá sustenido.

Olho para a frente, pelo meu olho da nuca
Não desgosto de palavrões e dentro de mim há esta constante diz puta
Noto que o mundo está do avesso, o resultado de tanto excesso
A moralidade escassa, está na hora de um reimpresso.

Escrevo em voz alta, em caneta de madeira
Para com o mundo não estou em falta, não me rendo à bubadeira
Ritmo inconstante, é a antagonia da vida
Mas a tempestade que não cessa acaba sempre em maresia.

Relaxem, pupilos, que o mestre sempre é aprendiz
Que errou tantas vezes, muitas mais que aquelas que quis
Só não sabe o que não quer aquele que não sabe quem é
Que a crise existêncial sirva de suporte e não como um tiro no pé.

A rima pode ser desorganizada, multiplicada de incoerências
Mas se é esse compasso da existência, porque seria no papel diferente?
O silêncio fala mais que palavras, dizem que quem cala consente
E às vezes quem tanto fala, procura esconder que, no fundo, é demente.

Aprende, em vez de ensinar. Escuta, em vez de falar
Coloca ponto no fim. Faz parágrafo. Avança, sem nada recear
A sério, confia em mim. É o conselho de quem nada sabe
Adota assiduidade, complexidade, subjetividade, vulnerabilidade, peculiaridade e cumplicidade.
Integridade, unidade, sinceridade, equidade, serenidade, autenticidade, racionalidade, amabilidade e maturidade.

É a tal coisa daquele que verbaliza só para ouvir a própria voz
Tenho pena desse que se agonia só para ser aceite por vós
Mas quem sou eu para tanto pregar? Quando na verdade nada sei...
Olho à volta, não me explico; e o que mais faço é pensar.

Não é mau não racionalizar. Não é má alguma incongruência
Não é má a mutabilidade. Não é má alguma divergência.
Não é mau chorar ou confessar. Não é mau grande parte do que foi reprovado.
Quebra o padrão, o estabelecido, e sê tu, não te sintas discriminado.

Mas tu é que sabes, a vida é tua. Faz o que bem entenderes.
O determinismo moderado é teu, o meu é meu, e farei o que me apetecer.
Sem ti, mas com mi, digo que pouco me importa, mas às vezes só quero soar espirituoso.
Sei que minto, coloco máscara, e é assim que abordo o asqueroso.

Quem sou eu não sei, sou aquele que se questiona
O que está antes do nome próprio, previamente ao pensamento
Aquele bem lá no fundo, num buraco negro no peito
Não adianta tentar, porque nem muito tento, serei sempre o ser imperfeito.

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