'Road to Paloma'
O corpo nu pressionou o interruptor vintage que vivia naquela parede castanha do corredor e uma fraca luz amarela iluminou a pequena divisão sem janelas. Carregava um livro, nascido nas Astúrias, - "Simbología mágico-tradicional" - que lhe pesava numa das mãos. Creio que na direita. 'Griffin Young - O'Come On' tocava, vinda algures do espaço, atribuindo algum dinamismo subjetivo e intangível à cena.
Deixou-se cair na banheira vazia e agradável à pele e o corpo foi escorregando. Assim se foi o torso adaptando à mãe da higiene, que agora não cumpria o seu leal propósito, até atingir o pico da comodidade. Lá fora, embora não o soubesse, uma lua pequena ia crescendo e vivia-se um bonito céu azul de fim de dia, combinado com tons e linhas rosa que o vento se encarregou de extinguir.
Pegou no livro, escrito em espanhol (embora não dominasse a língua), e começou a lê-lo, sem antes o agarrar de modo arrojado e sorrir para a parede. Sem nenhum motivo e com todos ao mesmo tempo. A guitarra trazia à vida um solo forte, criado há anos, e da música emergiam situações que nunca existiram. Uma realidade só dele. O pé, apoiado na borda da tina, dançava em abanos subtilmente brutos, sem que tivesse dado por isso. Abriu o livro no prefácio e leu, na diagonal, as duas primeiras páginas. Isto até se obrigar a escrever.
A 'Ballad of a Slowman' ambientava-o quando se apercebeu que tinha pousado nas pernas um caderno. Duas pulseiras discordantes caiam-lhe do braço à medida que o pulso direito encarnava palavras numa letra estranhamente descuidada - itálica, desinibida e indigna - algo que mais tarde lhe sairia demoroso. Mas ele queria criar. Fazer-se causador naquelas páginas que só a ele pertenciam.
A casa estava vazia mas estranhamente movimentada. Uma boa solidão de fendas abertas para o mundo. Estava tudo como almejara. Seria uma semana de paredes só para si mesmo. A caneta preta foi beijando o papel e as letras rebelaram-se numa atitude parcialmente independente das linhas.
Uma pausa. Vira a página.
Mãos gastas, velhas e tatuadas, ornamentadas com joalharia, soldavam tubos num espaço antigo. Dois homens de barbas cheias e grisalhas estavam sentados em bancos rachados e instáveis. No chão havia poeira e restos do que outrora tinham utilidades; no ar dançavam faíscas em tons amarelos e alaranjados. Era uma velha oficina, com um grande portão aberto para um deserto habitável, de estradas aparentemente não finitas.
De súbito, a música terminou. Assim morreu o pensamento.
Deixou-se cair na banheira vazia e agradável à pele e o corpo foi escorregando. Assim se foi o torso adaptando à mãe da higiene, que agora não cumpria o seu leal propósito, até atingir o pico da comodidade. Lá fora, embora não o soubesse, uma lua pequena ia crescendo e vivia-se um bonito céu azul de fim de dia, combinado com tons e linhas rosa que o vento se encarregou de extinguir.
Pegou no livro, escrito em espanhol (embora não dominasse a língua), e começou a lê-lo, sem antes o agarrar de modo arrojado e sorrir para a parede. Sem nenhum motivo e com todos ao mesmo tempo. A guitarra trazia à vida um solo forte, criado há anos, e da música emergiam situações que nunca existiram. Uma realidade só dele. O pé, apoiado na borda da tina, dançava em abanos subtilmente brutos, sem que tivesse dado por isso. Abriu o livro no prefácio e leu, na diagonal, as duas primeiras páginas. Isto até se obrigar a escrever.
A 'Ballad of a Slowman' ambientava-o quando se apercebeu que tinha pousado nas pernas um caderno. Duas pulseiras discordantes caiam-lhe do braço à medida que o pulso direito encarnava palavras numa letra estranhamente descuidada - itálica, desinibida e indigna - algo que mais tarde lhe sairia demoroso. Mas ele queria criar. Fazer-se causador naquelas páginas que só a ele pertenciam.
A casa estava vazia mas estranhamente movimentada. Uma boa solidão de fendas abertas para o mundo. Estava tudo como almejara. Seria uma semana de paredes só para si mesmo. A caneta preta foi beijando o papel e as letras rebelaram-se numa atitude parcialmente independente das linhas.
Uma pausa. Vira a página.
Mãos gastas, velhas e tatuadas, ornamentadas com joalharia, soldavam tubos num espaço antigo. Dois homens de barbas cheias e grisalhas estavam sentados em bancos rachados e instáveis. No chão havia poeira e restos do que outrora tinham utilidades; no ar dançavam faíscas em tons amarelos e alaranjados. Era uma velha oficina, com um grande portão aberto para um deserto habitável, de estradas aparentemente não finitas.
De súbito, a música terminou. Assim morreu o pensamento.
Gostei de conhecer e de ler!!!
ResponderEliminar